Aprender com tecnologias - Literacia Digital

Reflexão
A educação no século XXI deve ser encarada no espectro dos desafios avassaladores do universo digital e tecnológico. É inegável o ritmo alucinante do desenvolvimento tecnológico e o seu impacto na sociedade, em geral, e na escola, em particular. A sua influência abrange, largamente, a forma de produção de conhecimento, a visão do mundo, a organização da sociedade, o desenvolvimento das aprendizagens e a aquisição de competências, por forma a amestrar cidadãos críticos, responsáveis e conscientes do seu papel na sociedade contemporânea.
O mundo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) acarreta, junto das instituições educativas, responsabilidades na forma de as implementar e no desenvolvimento de competências digitais, premissas essenciais para a renovação da escola e das metodologias de ensino, preparando, como salienta Costa (2010)” as novas gerações para o mundo do trabalho, para a vida em sociedade”.
As Metas de Aprendizagem na área das TIC, apresentadas em 2010, no âmbito do projeto “Metas de Aprendizagem”, do Ministério da Educação, tinha um objetivo muito sadio, tratava-se, como refere Costa (2010), “de equacionar de uma forma sistemática, a definição do que os alunos deveriam adquirir na área das TIC ao longo e em cada uma das fases do seu percurso escolar, desde o Pré-escolar até ao final do Ensino Básico, de uma forma transdisciplinar ao currículo.” Acontece que, fruto estratégias governativas díspares, o projeto ficou apenas no papel e não foi implementado. Para trás ficou um longo processo de investigação colaborativa de várias Universidades, sob a coordenação da Universidade de Lisboa (COSTA, 2002, 2007, 2008, 2009) e um conjunto de ideias de extrema importância para a renovação da escola atual que, como refere Costa (2010) “agora poderia ser útil se associado à experiência e sabedoria de alguns colegas para quem as TIC são, de facto, a alavanca para a tão necessária mudança da escola, isto é, a mudança dos modos como se ensina e como se organiza e estimula a aprendizagem.” O documento “As Metas de Aprendizagem TIC” podia ter sido um passo gigante no desenvolvimento de várias competências e podia “servir de orientação para todos os intervenientes no processo educativo, particularmente os professores, relativamente a estratégias de ensino e a estratégias de avaliação dos resultados da aprendizagem (…)”(Costa, 2010). A organização do documento das competências em TIC estava simples e bem elaborada,  estruturava-se em três planos distintos, (i) Tecnologias digitais (saber usar), (ii) Competências transversais em TIC (saber usar para aprender o currículo), (iii) Competências transversais gerais (saber usar para pensar decidir e agir). No segundo e no terceiro planos as competências desenvolvem-se em quatro áreas, o primeiro privilegia a informação, comunicação, produção e segurança, já o segundo beneficia a meta-aprendizagem, autoavaliação, autorregulação e expressão. No segundo plano são contempladas áreas que servem de suporte às literacias preconizadas no referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”, da RBE, onde se estaca a literacia da leitura; a literacia dos média e a literacia da informação. Assim estamos perante dois documentos, um não oficial e outro oficial, que se afiguram complementares e que podem fazer toda a diferença quer na prática dos agentes educativos quer ao nível do desenvolvimento de “um conjunto de literacias essenciais à aprendizagem e ao sucesso educativo, que incluem não só as competências básicas de leitura, matemática ou ciências, como outras, de que são exemplo as competências da informação, digitais e dos média” (Referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”, 2012).
Neste seguimento, cabe à biblioteca, enquanto palco do conhecimento, ser a alavanca da mudança, desenvolver as competências transversais ao currículo e, num rasgo pró-ativo, recuperar a metas das TIC, desenvolvendo um trabalho conjunto, de articulação com o currículo, por forma dar resposta cabal às gerações futuras, no âmbito das literacias para a aprendizagem ao longo da vida.
O processo de operacionalização desta prática passa por seguir, de forma articulada e complementar, os princípios subjacentes aos documentos referidos. No caso concreto das metas das TIC,  é importante ter presente os pressupostos referidos por Costa (2010):
(i) Assumem-se as TIC como uma área de formação transversal, mas assume-se também que a aquisição e o desenvolvimento das competências digitais devem estar presentes ao longo de toda a escolaridade; (ii) […] a aquisição das competências em TIC é um imperativo da escola em resposta aos desafios do mundo do trabalho e da sociedade em geral neste início do Século XXI, isto é, que as competências em TIC constituem uma preparação essencial para o exercício pleno da cidadania; (iii) […] as TIC não apenas enquanto competências instrumentais ao serviço de outros saberes disciplinares, mas principalmente como oportunidade e estratégia de desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos (Jonassen, 2007), tomando como factor motivador e indutor desse desenvolvimento, a relação natural que os mais jovens cada vez mais têm com as TIC.
O Referencial “ Aprender com as Bibliotecas Escolares”(2012) também defende que “ com a introdução e desenvolvimento das TIC, as bibliotecas escolares viram a sua intervenção e papel reforçados. As tecnologias e a internet vieram introduzir novas oportunidades de acesso à informação e redefinir as existentes substituindo condições e modelos de uso e produção do conhecimento.”
Em suma, está nas nossas mãos, enquanto professores bibliotecários, otimizar dois excelentes instrumentos, com recursos de apoio à nossa práxis diária. A biblioteca precisa de agir tendo presente as metas das TIC e o Referencial, em articulação com o currículo e com os agentes educativos, visando dar resposta aos novos desafios da escola, às necessidades dos alunos e às literacias emergentes, resultantes do contexto da sociedade do Século XXI.

Referências bibliográficas:

COSTA, Fernando et al. (2010). I Encontro Internacional TIC e Educação. Inovação Curricular com TIC. Lisboa. Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. (931-936). (http://aprendercom.org/miragens/wpcontent/uploads/2010/11/398.pdf)

COSTA, Fernando et al. (2010). Metas de Aprendizagem na área das TIC. in DGIDC-ME (2010). Metas de Aprendizagem. Lisboa: DGIDC/ME. Disponível em http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6567

FELIZARDO, Helena. (2014). As metas de aprendizagem na área das TIC no contexto do desenvolvidas das literacias e das competências transversais : Um referencial para as aprendizagens com TIC [Facultado pela Docente da Disciplina, na Plataforma].

JONASSEN, David (2007). Computadores, Ferramentas Cognitivas. Porto: Porto Editora.

PORTUGAL. Ministério da Educação e Ciência. Gabinete da Rede Bibliotecas Escolares: Aprender com a biblioteca escolar . Lisboa: RBE (2012) Disponível em http://www.rbe.min-edu.pt

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